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A seletividade alimentar e o autismo

Por Fernanda Monteiro

Alimentação é um assunto muito delicado e uma queixa muito frequente dos pais com filhos com autismo. Não apenas pela angústia, pelo risco de deficiências nutricionais mas, pelo momento da refeição se tornar um momento de estresse.

Para pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), essa dificuldade na alimentação é bem comum, pois recebem interferência direta de estímulos sensoriais.

Segundo Dra Danielle Dolezal – Supervisora Clínica do Programa de Alimentação Pediátrica do Centro de Autismo Infantil de Seattle- “Comer é uma das experiências mais sensoriais que você pode ter”.

As crianças com TEA podem apresentar comportamentos restritivos, seletivos e ritualísticos que afetam diretamente seus hábitos alimentares resultando em desinteresse e recusa para alimentação.

Uma pesquisa realizada pela University of Massachusetts Medical School, definiu o grau de seletividade alimentar e comparou estes índices entre crianças com autismo e crianças com desenvolvimento típico de acordo com três domínios: recusa alimentar; repertório alimentar limitado e ingestão alimentar única de alta frequência.Esta pesquisa constatou que as crianças com TEA apresentaram mais recusa alimentar que as crianças com desenvolvimento típico (41,7% vs. 18,9% dos alimentos oferecidos). Além disso, exibiram um repertório alimentar mais limitado do que as crianças com desenvolvimento típico (19,0% vs. 22,5% alimentos apresentados). Já a recusa alimentar foi observada nos dois grupos (Cermak, Curtin, Bandini, 2010).

Alguns fatores podem contribuir para a seletividade alimentar, um deles está relacionado à sensibilidade sensorial — também chamada de defensiva sensorial ou super responsividade sensorial, é a reação exagerada a certas experiências de toque, muitas vezes resultando em uma aversão ou uma resposta comportamental negativa (Cermak, Curtin, Bandini, , 1994).

A alimentação pode ser negativamente afetada pela sensibilidade sensorial a texturas, gostos, cheiros e temperaturas dos alimentos. especialmente em crianças com autismo.

Fato que pode ser comprovado em uma pesquisa onde pais de crianças com TEA relataram que 67% tinham seletividade alimentar, sendo a textura dos alimentos (69%) o fator de maior relevância nessa seletividade, seguido da aparência (58%), sabor (45%), cheiro (36%) e temperatura (22%). Mas, o maior problema identificado pelos pais, relativos a comportamentos alimentares e orais, foi a relutância em experimentar novos alimentos (69%) (Cermak, Curtin, Bandini, 2010).

“Os aspargos enlatados eram intoleráveis devido à sua textura viscosa, e eu não como tomates há um ano depois que um tomate cereja explodiu na minha boca enquanto eu comia. A estimulação sensorial de ter aquele pequeno pedaço de fruta explodindo na minha boca foi demais para eu suportar e eu não tem nenhuma chance disso acontecer novamente.” — Stephen Shore, relato de um adulto com autismo (Cermak, Curtin, Bandini, 2010).

Com isso, podemos tentar entender as dificuldades na alimentação para pessoas com autismo, por suas sensações.

Outros fatores podem estar associados como, atrasos das habilidades motoras orais resultando em aumento de esforço para mastigação; os padrões de comportamento restritos, repetitivos ou estereotipados, que levam a uma insistência na mesmice e recusa a flexibilidade; e ainda problemas gastrointestinais, que podem relacionar desconforto à alimentação ou intolerância ou alergia, que também podem interferir. Mas mesmo com essas dificuldades, que podem ser gradativamente superadas através de tratamentos possíveis com profissionais especializados, como terapeuta ocupacional (integração sensorial), fonoaudióloga, nutricionista, psicóloga, o estímulo da família em casa é fundamental.

É com a família que se inicia a construção dos hábitos, a formação e a estruturação de um ambiente adequado para as experiências alimentares. Essas experiências poderão ser decisivas na aceitação dos novos alimentos.

O ambiente, a maneira de ofertar o alimento, os hábitos alimentares, podem tornar a experiência alimentar mais agradável e estimulante para a criança.

É observando os pais ou cuidadores comendo, em um ambiente organizado e agradável, que podem transformar as refeições em momentos prazerosos e estimulantes para a criança.

As questões alimentares também podem estar ligadas a fatores comportamentais. Sendo assim, proporcionar um ambiente adequado, pode melhorar a qualidade da alimentação.

Por isso, alguns aspectos, podem auxiliar a aceitação dos alimentos pela criança:

  • tenha uma rotina estruturada, principalmente para as refeições;

  • crie os passos para preparar a criança para a hora da refeição, como ajudar a colocar a mesa, lavar as mãos — esse processo traz dicas do que vai acontecer e a criança começa a se preparar;

  • evite lanches fora de hora ou livre demanda, para que a criança não perca o apetite na hora das refeições;

  • procure realizar as refeições em família, assim a criança terá pessoas em quem se espelhar nos movimentos e na motivação para experimentar o que as outras pessoas estão comendo;

  • não force, mas ofereça. Coloque alimentos variados à mesa, perto da criança, de maneira que ela possa ver e, caso se interesse, possa se servir;

  • se a criança aceitar, coloque alimentos diferentes em seu prato, mesmo que ela não coma, para que se familiarize com cores, cheiros e texturas diferentes;

  • incentive a independência durante a alimentação;

  • traga o lúdico: brinquem de fazer comida de massinha e alimentar bonecas e bichos de pelúcia;

  • permita que a criança escolha o prato e copo de sua preferência para a refeição, isso pode trazer maior interesse para se sentar à mesa;

  • convide a criança a participar de atividades na cozinha, ajudar a lavar tomates, verduras, a fazer salada de frutas ou misturar o bolo, por exemplo;

  • plantar temperos, e depois pedir que a criança pegue na horta;

  • comemore cada alimento novo que ela aceitar e continue a oferecer;

  • não utilize eletrônicos durante as refeições.

O mais importante nesse processo é a calma, paciência e muita criatividade. Não desistir de acompanhar e estar sempre oferecendo e apresentando novos alimentos.

A autora

Fernanda Monteiro é Terapeuta Ocupacional, pós-graduada em Ergonomia (UFPR) e Gestão Organizacional (UFSCar). Foi professora da Universidade Federal do Paraná e pesquisadora da Capes/CNPQ na Bridgewater University, em Boston (EUA). É fundadora da Stimullus – Inteligência Infantil, autora do livro “Super Gênios” e criadora do Método BRINC.

Referências

  • https://seattlemamadoc.seattlechildrens.org/why-children-with-autism-struggle-with-eating/

  • Cermak; Curtin; Bandini. “Food Selectivity and Sensory Sensitivity in Children with Autism Spectrum Disorders”. Journal of the American Dietetic Association. 110(2) 238–246, 2010.. https://www.ncbi.nlm.nihgov/pmc/articles/PMC3601920/

As informações e opiniões emitidas neste texto são de responsabilidade única do(a) autor(a).


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